terça-feira, 28 de outubro de 2008

Don Diego no comando


Maradona é o novo técnico da Argentina. El Pibe substitui Alfio Basile, que entregou o cargo por conseguir a proeza de comandar uma campanha pior que a do Brasil de Dunga. Carlos Bilardo, o técnico da última seleção argentina campeã do mundo (a de 1986, quando Maradona fez o diabo em campo) será o coordenador técnico (porque alguém precisa minimamente entender alguma coisa de tática) e Sergio Batista, técnico da seleção olímpica medalha de ouro em Pequim e que também jogou na Copa de 86, deve compor a comissão técnica.
Geléia Geral deseja sorte ao Maradona na nova tarefa. Don Diego sempre se diferenciou da mediocridade geral dos jogadores de futebol, tanto dentro de campo (um gênio) quanto fora dele. Suas entrevistas são sempre divertidíssimas, seu raciocínio é rápido e seu senso de humor e inteligência são notáveis. Numa boa, estamos cagando e andando se o hermano baixinho cheirava toneladas de pó e bebia que nem gambá. O nariz é dele, ele não pediu pra ser exemplo pra ninguém e, cá pra nós, só fez lambanças que detonaram sua própria saúde. Me lembro de um comentário do Casagrande (outro jogador bom de papo e de inteligência acima da média, mas que também peca pelo descontrole do nariz) sobre ele: "Maradona pode ser tudo, menos burro. Se fosse burro, seria amigo do Fernando Henrique Cardoso, e não do Fidel Castro!"
Louvamos a iniciativa do Julio Grondona, presidente da AFA (Associação do Futebol Argentino). Afinal, já que é pra arriscar tudo com um ex-jogador sem experiência alguma como técnico, nada melhor do que jogar todas as fichas em alguém que pelo menos jogou bola pra cacete. Com certeza as entrevistas do Maradona após os jogos serão muito mais divertidas do que aquela montoeira de frases feitas, marra inexplicável e rabugice do Dunga. Que, por sinal, era um mala sem alça quando jogava bola e sempre fez apologia do futebol "de resultados" - aliás, um péssimo eufemismo pra armar retranca e escalar 11 imbecis sem talento.

Boa comida...

Um dos nossos fortes é a gastronomia. Tanto para preparar quanto para degustar bons pratos.
Então pensamos que esse espaço pode ser um importante difusor da boa mesa. Pensando nisso tentaremos sempre fazer propaganda (sem receber nada em troca, infelizmente) de restaurantes, bares e butecos que costumamos freqüentar onde se pode pagar pouco e comer bem, nunca pagar bem e comer pouco.
Nesse domingo, como não tínhamos que encarar a difícil missão de escolher entre o tucano Gabeira e o ex-futuro-nunca deixou de ser-tucano Paes, fomos, eu, Andréia (minha namorada), Bernardo e família (Keka e Pedro) e Eduardo (não o Paes, o Louzada), a um ótimo restaurante na região da Praça da Bandeira, Rio de Janeiro.
Trata-se do Petit Paulette. Praticamente vizinho ao já badalado Aconchego Carioca, o Paulette tem se tornado famoso pela boa comida, com variados sabores e ótimo preço. O cardápio inclui o famoso croquete, que pode ser de carne, berinjela ou alho poró com palmito, passando pelo risoto de camarão, pastéis de camarão (com farto recheio), rabada de avestruz, paella, etc. Resolvemos optar pelo tradicional prato espanhol. Nada mais recomendável! A iguaria serviu bem aos cinco integrantes da mesa (o Pedrinho, ainda não pode desfrutar dos prazeres da boa mesa) e saiu pela módica quantia de R$ 62,00. Vale muito a pena conferir!
Além disso, uma das vantagens do local é a possibilidade de se degustar a variada carta de cervejas do Aconchego Carioca, tendo em vista que os dois estabelecimentos são parceiros. Assim, adquirimos as excelentes Schelenkerla, Strong Suffolk Vintage Ale e a Colorado Demoiselle.
Em suma, uma ótima tarde de domingo que recomendamos.

Balanço das eleições - Flavio Aguiar

Reproduzimos aqui o artigo que o Flavio Aguiar, professor da USP e editor-chefe da Carta Maior, publicou no site mais importante da mídia alternativa deste país. Tenho total concordância com o conteúdo do texto. Quem quiser, pode aproveitar e fazer uma visita ao site da Carta Maior, clicando no link que está aqui ao lado, na lista de indicações de Geléia Geral. Boa leitura.

DEBATE ABERTO

Serra, Kassab & Cia. Ilimitada

Os pobres, ou ex-pobres, se tomarmos em conta os milhões de brasileiros que cruzaram o linha da pobreza para cima, estão cada vez mais cobrando voz na política. É a sua presença que vai definir o cenário futuro, é a força da sua maré que vai terminar de afundar a teoria da pedra no lago.

Flávio Aguiar

Visto de longe, o Brasil saiu mais petista e mais peemedebista desta eleição em dois turnos, e menos pessedebista e menos dem também.
Não fosse a vitória de Kassab, o DEM ficaria anêmico. Também não fora a vitória de Kassab, o PSDB também não teria grande coisa a festejar. A imprensa conservadora e seus analistas também.

A partir daí quer-se construir o discurso da vitória de Serra como o grande passo desta eleição. As premissas desse discurso são: só o que acontece nas maiores metrópoles é relevante; só o Brasil das grandes metrópoles é relevante; só o que acontece com Serra é relevante. Essas análises permanecem ainda aferradas ao modelo de pensamento da pedra no lago, dos círculos concêntricos que se espalham, que o eleitor dos grandes centros do sudeste vale mais do que o das outras regiões do país, etc.

Porque Serra precisa ser ungido como o moinho de vento diante do qual os quixotescos petistas, ou lulistas, ou o que forem, serão desapeados de seus Rocinantes. Pois assim essa leitura vê os eleitores que votam à esquerda, com Lula ou sem Lula: como Rocinantes montados por Quixotes.

Há várias considerações a fazer. O PMDB saiu muito fortalecido nas eleições, embora não tenha definido uma liderança nacional. Vai cobrar um possível apoio a um candidato lulista em 2010. O PT cresceu muito, talvez, proporcionalmente, entre os grandes partidos, tenha sido o que mais cresceu. Houve casos relevantes para a análise.

Por exemplo: tão importante quanto fazer a análise de por que Maria do Rosário perdeu em Porto Alegre, se possível sem dedos apontados para o linchamento, é fazer a análise de porque o PT ganhou em quase todo o cordão de cidades vizinhas que pertencem à grande Porto Alegre. Ao contrário de antes, quando era um bastião vermelho, a capital gaúcha agora está cercada por um anel rubro. Para além da questão dos acertos e erros de campanha, que são cruciais, é preciso chegar até a análise social do que está acontecendo no país e em suas diferentes regiões.

Outro exemplo: sim, Sérgio Cabral sai engrandecido com a vitória de Eduardo Paes e a derrota do neo-udenismo de Gabeira. Mas deve-se analisar qual o papel, nessa vitória, da crônica impossibilidade da esquerda carioca colocar uma plataforma e candidaturas viáveis, unindo-se em torno delas, e não apenas se concentrando na defesa de seus nichos.

No caso de S. Paulo, sim, de certo modo Serra venceu. Ou seja, derrotou Alckmin na disputa interna do PSDB, empurrou FHC mais para a sombra, e tornou-se o líder desse partido e, portanto, o cabeça-de-chave da direita nacional. Agora, atribuir a seco a vitória de Kassab ao empurrão de Serra é desconhecer pelo menos um fator preponderante nessa vitória: o próprio Kassab. Kassab obteve uma vitória contundente em S. Paulo capitalizando sim o anti-petismo que viceja na comarca paulistana, mas também porque sua administração avançou em alguns territórios que em outras eleições votaram em peso na ex-prefeita Marta Suplicy. E fez isto porque se afastou de balizas da gestão de Serra na prefeitura, fazendo uma administração mais “populista”, se me permitem tomar o jargão que a direita usualmente quer pendurar na esquerda.

Portanto, para se buscar uma visão que balize a discussão do resultado e da resultante, isto é, a eleição de 2010, é preciso ir além do tabuleiro político em sentido estrito, e se ver como estão se (re)alinhando as forças sociais que esse tabuleiro representa. Os pobres, ou os ex-pobres, se também tomarmos em conta os milhões de brasileiros que cruzaram o linha da pobreza para cima, estão cada vez mais cobrando voz na política. É a sua presença que vai definir o cenário futuro, é a força da sua maré que vai terminar de afundar a teoria da pedra no lago. Mas isso não significa, necessariamente, uma votação mais à esquerda. Se não houver trabalho de aproximação contínua com essa nova paisagem brasileira, periga ela tornar-se conservadora. A crise e seus efeitos vão dar a nota toante nos próximos tempos, junto com as propostas para enfrentar seus problemas, e o modo de explicitá-las.

Flávio Aguiar é editor-chefe da Carta Maior.