sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Sobre a tese, a anti-tese e aquele abraço

Caríssimos,
A íntegra da análise de Pajé Lara foi publicada no Tahz - Zona de História Autônoma e Temporária - Não lugar de tempo algum (Clique aqui para ler). Na segunda parte, ele critica a idéia de que o lulismo se tornou maior que o petismo, entre outras coisas, como sempre. O lulismo foi analisado por André Singer em seu artigo publicado na revista Novos Estudos Cebrap (clique aqui) e também está na entrevista que ele concedeu à revista Teoria e Debate, n. 88.
Regozijem-se e comentem

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Uma tese, uma anti-tese e um abraço fervoroso



Aqui vai a análise de Pajé Lara sobre o a democracia e o primeiro debate dos presidenciáveis, ainda que fale de outras coisas.
Regozijem-se


TESE

A democracia pode ter seus inúmeros defeitos mas se há algo que ela é, quando não dramática, é cômica. Para os que, desde 1989, vêm os interessados nos cargos públicos eletivos debaterem ao vivo este sempre foi um momento no mínimo, pitoresco. O problema é que, gradualmente, essa característica tem se perdido, dando lugar a um marasmo burocrático, uma tecnicidade irreal e uma falta de tesão digna de uma tarde na coordenadoria pedagógica.

Sim, era mais interessante ver o Brizola o Maluf, o Covas, Ulisses, o Jânio e o lula em suas explosões sinceras do que o Alkmin ou o serra em suas comedidas simpatias fabricadas. Porém, todavia, no entanto, essa sem-gracisse tem a ver com o alardeado “amadurecimento da democracia”, contrariamente a tese da “infância da democracia” que diz o “poder e a política” do mestre Fernando Rodrigues, que defende a ridícula tese de que “são muitas regras e pouca liberdade”. A democracia e a curva a “esquerda” são claras nesse processo eleitoral. A democracia pintada como seriedade e representatividade conjunta de elementos definidores da movimentação econômico-social, e a “esquerda” como uma série de discursos que, habilmente, articulam necessidades imediatas e tecnicidades, numa espécie de xamanismo mecânico, na qual os temas que finalmente fazem parte das “agenda sociais” ainda aparecem sob o véu da dominação gerencial

Desde Aureliano, Maluf, Afif e Caiado em 1989 os candidatos importantes criados e educados na tradicional direita burguesa e autoritária, vêm diminuído quantitativamente a ponto de, em 2010, não existirem. (“O FHC, o Alkmin, o Serra!”, lembraria você, com certa dose de razão, mas explico-me adiante). Embora que para muitos, ser de esquerda entre a década de 40 a década de 70 no Brasil fosse como queimar hereges na inquisição ou matar judeus pelo nacional socialismo - primeiro uma obrigação moral, depois um arrependimento forçado em função de uma frágil consciência e em seguida uma condenação vazia de significado prático - há que se considerar, por uma clareza de análise que os candidatos do PSDB não são da mesma estirpe dos inicialmente mencionados (o que não o absolve de certas condenações maneiras). Pelo contrário, eles representam a culpa velada da direita no seu caminho inquisidor-eugenista em direção ao amadurecimento discursivo e de convencimento.

A esquerda é um espectro político que se constrói em um campo que apresenta um combate específico de discursos sobre determinadas idéias e temas. Não é em si, uma posição política, mas sim a esfera onde estas posições se contrastam em funções de temas comuns. Obviamente que sua aparente entrada na “agenda” não significa, para o Brasil, qualquer movimento de sua sociedade em direção a igualdade, a justiça social e a igualdade econômica.

Neste sentido, a tese é que, para o bem ou para o mal, o Brasil está se curvando a esquerda. Emprego, diminuição da pobreza, grande papel do Estado, alianças com setores e movimentos e políticas sociais são, desde sempre, tópicos daquele campo que contrapomos à direita. Há no horizonte outros elementos que se agregarão a esse campo, materializados na “onda verde” colombiana, na culpa sócio-ecológica européia e na oportunidade aberta pela “eleição plebiscitária”.

A critica do Marx no 18 brumário tem muito pouco a acrescentar na esfera da “esquerda” hoje. E os debates que, há 50 anos se travavam, mal se encaixam numa realidade que precisa de uma releitura radical para que novas e fortes oposições surjam.


DEBATE

José Serra e seu inicio pouco elegante em sua tese sobre o CcO (Corpo com órgãos), fez uma analogia (porque metáfora é coisa do lulismo) dos três temas inicialmente propostos com “3 órgãos do corpo humano”. Mais infeliz do que a analogia foram os exemplos dos orgaos: “coração, fígado e intestino”. Que o candidato não tenha em mente as idéias de Artaud ou Deleuze, ainda se desculpa, mas o fato de um ex-ministro da saúde, ao invés de citar cérebro e pulmão, cite “fígado e intestino”, é no mínimo, deselegante. Fica a pergunta sobre o paralelo entre a função do intestino e da educação ou do fígado e da segurança (pressuposto que a saúde é o coração).

O candidato da “direita” resume seu trajeto político na base da coleção “primeiros passos” da editora “política para iniciantes” dizendo de sua presidência na UNE, da participação na JUC (onde “saindo da adolescência” conheceu o candidato mais a “esquerda”), da sua participação na constituinte, na estabilidade econômica e nos programas sociais. Marina (a candidata na nova alternativa) lembra que foi do PT, prega o “realinhamento histórico” contra as divergências, e prega o trabalho junto entre os representantes da “direita” e da “esquerda”. O candidato da “direita” termina respondendo: “Marina, eu to muito na sua linha”.

Acabaram com o Paulo Freire, minimizaram a reforma agrária loluvando a agricultura familiar, assassinaram a ética, elevaram o crack a política de juventude, Marina sempre graciosa, chamando o Tarso Genro de amigo e o Plínio de humanista e professor, apela pela convergência e realinhamentos dos temas e políticas prioritárias, embora tenha tido uma recaída Durkhaiminiana na tese do “adoecimento da sociedade”. Mas tudo em casa.

Moral da história: É melhor um direitista expressivo do que um esquerdista frustrado. Só há saída para além da “esquerda”. O jornalismo só faz da democracia mais suja, tirana e inatingível do que ela realmente é.