A História reescreve o orgulho de ser vascaíno Nélson, Mingote e Leitão; Arthur, Braulio e Nolasco; Paschoal, Pires (Dutra), Bolão, Torterolli e Negrito. Técnico: Ramón Platero. Qual a impotância desse time para a história do Vasco?
Não, não são os jogadores que venceram o Campeonato Sul-Americano de 1948, tampouco participaram de um Campeonato Brasileiro, muito menos estavam vivos para verem a América ser nossa pela segunda vez em 1998.
Esse foi o time que deu ao Vasco o título da 2ª divisão do Campeonato Carioca.
Sim, o Vasco já disputou a segundona carioca, contra potências como Palmeiras (?), Carioca (??), Mackenzie (???) e Mangueira (!).
Viemos de baixo.
Não nascemos de nariz em pé, não somos filhos da aristocracia carioca.
Somos o time dos negros, dos operários, daqueles que não podiam jogar futebol por não ter um sobrenome inglês, por não ter a pele alva européia ou simplesmente por não ter dinheiro.
Esse time de excluídos ascendeu à primeira divisão e logo em seu ano de estréia fez história, conquistou o título, arrebatou corações e deixou a elite futebolística indignada...
"Como assim um time de 'inferiores' vem jogar o nosso campeonato, nos nossos estádios e sai campeão???".
Fomos impedidos de disputar o Campeonato Carioca do ano seguinte.
Motivo alegado: não tínhamos um estádio. Motivo verdadeiro: preconceito. E eis que esse time resolve fazer história novamente.
Sua torcida se une, faz uma campanha de arrecadação e constrói em pouco tempo aquele que seria o maior estádio da América Latina até a construção do Maracanã: o Estádio de São Januário, o nosso Caldeirão. Poucos clubes no mundo podem se orgulhar de ter uma história tão bonita de luta, superação, respeito e amor.
Muito mais podemos tirar dessa nossa bela história, mas escolhi esses dois momentos pois eles não saiam da minha cabeça após o jogo contra o Vitória.
Meu sentimento é que nós, torcedores, andávamos meio adormecidos, quietos, nossa história andava esquecida no meio de tantas mazelas que assolaram nosso amado Vasco nos últimos anos.
Quis o destino que fosse preciso passar por uma provação como a que passamos nesse Campeonato para que retomássemos nossa devoção ao clube, que trouxéssemos o Vasco de volta às suas origens: o Vasco é da torcida, aquela mesma que se encantou com o time do subúrbio que não tinha estádio e que se uniu para construí-lo. Fim do jogo, Vasco rebaixado à Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro.
Eis que o caldeirão outrora lotado vê parte do público ir embora.
Mas alguns teimavam em não sair, eu e meu pai entre eles.
Olhavam para o campo, para as arquibancadas, para a social, para a capelinha de Nossa Senhora das Vitórias, buscando no olhar do outro um conforto, uma esperança, um sentimento de irmandade.
E eis que de repente o então frio Caldeirão se ascende e o Hino que me faz arrepiar a cada vez que ouço é entoado aos milhares: VAMOS TODOS CANTAR DE CORAÇÃO, A CRUZ DE MALTA É O MEU PENDÃO!
E naquele canto, naquele orgulho de ser vascaíno, meus olhos se enchem d'água. Somos muitos, somos milhões, somos irmãos unidos no amor ao Gigante da Colina.
E naquele momento pensei nos jogadores que em 1922 escreveram um capítulo importante na gloriosa história do Clube de Regatas Vasco da Gama.
Viemos da segunda divisão e nos deparamos novamente com ela.
Nesse ano de resgates para o Vasco (o resgate da democracia, o resgate da torcida, o resgate do orgulho de ser vascaíno) não fomos rebaixados, mas sim fomos levados a revisitar uma parte esquecida de nossa história. Viemos de baixo para nos tornarmos gigantes.
E essa volta às origens certamente fará o gigante adormecido acordar ainda mais forte! E nós, torcedores, tal qual nossos predecessores da década de 20, temos a missão de reconstruir São Januário...
Que nosso Caldeirão ferva a cada jogo na dura jornada de 2009.
Que cantemos ainda mais, que vibremos ainda mais, que nos unamos ainda mais!
Que possamos juntos reconduzir o Gigante ao caminho dos títulos! Saí de São Januário com um sentimento estranho.
O Vasco fora rebaixado, mas mesmo após uma tristeza profunda eu sorri.
Não conseguia parar de pensar na nossa linda história, na luta contra o preconceito, na construção de São Januário, no amor incondicional que vi em cada olhar, em cada lágrima derramada no estádio.
E uma imagem não saía da minha cabeça: uma faixa com a frase que dá título a este texto. A história reescreve o orgulho de ser vascaíno.
E esse sentimento não pode parar nunca.
Hoje levei minha camisa do Vasco para o trabalho e pendurei na minha cadeira.
Fui jogar minha pelada devidamente uniformizado e ainda passei pela academia, sempre com a cruz no peito. E a cabeça erguida. E a cada piada, a cada comentário "você é corajoso", eu olhava pra cruz e a beijava. Reafirmava meu amor incondicional, minha certeza de que esta queda nos fará ainda mais fortes, ainda mais unidos, ainda mais vascaínos. E a cada beijo na cruz, lembrava de nossa história. E sorria.
Provavelmente me achavam louco os invejosos torcedores dos outros clubes, mas não estou nem aí.
Não há razão que explique o amor. Hoje eu olho para a cruz de malta ainda mais apaixonado por ela! Grande abraço, Francisco Kronemberger.